Festa, Fênix, (o)Fídio

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O que pode haver em comum entre um bolo, um pássaro e uma serpente?

Não é pegadinha, juro. :p

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Fênix dá a dica, mas talvez fique mais fácil se eu esclarecer que o bolo é de aniversário e que a cobra [ofídio] a que me refiro é Ouroboros. Um é a festa anual do nosso nascimento, outro representa ressurreição e o terceiro simboliza o fluxo da vida e da morte.

Nesse começo de ano, o tema, nada surpreendente, é ciclos.

Nossa consciência percorre o fluxo de tempo por um determinado período, que chamamos de vida. Esta sempre segue o mesmo padrão, onde passamos pelo nascimento, amadurecimento e morte, sem exceção. Organizamos a nossa percepção temporal pelos ciclos celestiais, a duração dos dias, das noites e das estações.

Registramos eventos em livros de história, com o passado refletindo as idas-e-vindas de impérios, suas ascensões e decadências. Comemoramos periodicamente nossa sobrevivência e marcamos datas importantes a serem relembradas de tempos em tempos. Cogitamos a continuidade desse fluxo no pós-vida, na esperança de um retorno, um renascimento, uma ressurreição, uma segunda chance, ou no desejo de sair das repetidas experiências dolorosas.

Sabemos que coisas envelhecem. Sabemos que é preciso plantar para colher. Sabemos que é preciso destruir o velho para abrir espaço para o novo. Sabemos que entropia e erosão são constantes naturais da realidade.

Ainda assim, buscamos incessantemente a eternidade. Queremos manter os momentos prazerosos e congelar as dores no fundo do abismo. Nos recusamos a absorver o luto, contestamos derrotas e nos angustiamos perante a morte.

Raiden Ei, de Genshin Impact. Fonte

Infelizmente, estes aspectos da vida estão além do nosso controle, mas, felizmente, não é preciso cair no ressentimento, acreditando que não é possível quebrar o fluxo de sofrimento.

Nas religiões e filosofias hindus, budistas, jainistas e sikkistas existe um conceito chamado samsara, que representa o ciclo de reencarnações e da existência em geral. Seus ensinamentos, práticas e morais giram em torno de mostrar para a pessoa como trilhar o caminho mais virtuoso possível, lidando com seus karmas (ações) e eventualmente libertando-se da roda de sofrimento, atingindo a Iluminação (Moksha, Nirvana, Kaivalyam, Libertação).

O Caminho da Individuação, proposto por Jung, bebe destas fontes. Ele percebeu o potencial do ser humano enquanto indivíduo e que muito do nosso sofrimento pessoal vem da cisão entre Ego e Sombra, do que reprimimos e do que não desenvolvemos. Assim, a evolução pessoal só é possível ao transcender essa dualidade, integrando os aspectos do inconsciente no consciente, e portanto se aproximando cada vez mais da totalidade do ser, do Self.

Independente do seu objetivo e das suas crenças, trilhar a jornada do autoconhecimento trará um leque de possibilidades e novas perspectivas pra sua vida. É possível alcançar um equilíbrio, manejar as feridas e obter paz, felicidade e sucesso.

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Neste novo começo de ciclo do calendário gregoriano, 2023, desejo a você a renovação do ânimo e da esperança, muitas festas comemorativas que marquem a sua vida, força para ressurgir das cinzas e enfrentar os desafios e perdas, e uma compreensão cristalina do fluxo da realidade e sua natureza.

Feliz Ano Novo!


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